Bitcoin é um tema relativamente presente na vida de Daniel Cohen. Volta e meia algum interlocutor questiona o líder de pagamentos emergentes da MasterCard para América Latina e Caribe se a moeda virtual ocupa a posição de inimigo no jogo que a provedora de soluções de meio de pagamento se propõem a disputar. “Não!”, enfatiza, para depois de uma pausa adicionar: “definitivamente não”.

 

O executivo está à frente de uma área da companhia onde o desafio vem carregado de uma enormidade de oportunidades. Especificamente sobre o dinheiro virtual, ele explica que há algumas questões a serem resolvidas, sendo a principal dela a questão do “lastro” (garantias implícitas que garantem o preço de moeda) que lhe atribua um valor tangível.

Mas essa é apenas mais uma onda tecnológica que atinge sistemas de pagamento e transforma empresas, de maneira geral, em organismos cada vez mais digitais. A digitalização do dinheiro, que se desenrola ao longo décadas, se acelerou de maneira mais intensa há um punhado de anos empurrado pelo avanço da mobilidade.

O executivo cita dados estimados que apontam que os norte-americanos possuem, em média, 15 aplicações que de alguma forma requerem dados de cartão de crédito em seus smartphones. Isso significa que uma parcela considerável deve ocorrer nesses ambientes. “Nosso principal objetivo é ter toda transação fluindo de forma segura”, comenta.

A MasterCard testa a aderência (e em alguns casos já explora) de diversos modelos para esse novo cenário. Há uma parceria com a Apple para a solução “Pay”. Outra frente, anunciada há alguns meses, é o MasterPass – solução digital anunciado em fevereiro de 2013. Desde então, o produto foi lançado em 10 mercados (Austrália, Canadá, China, Itália, Polônia, Nova Zelândia, Cingapura, Sul África, EUA e o Reino Unido) e é aceito, de acordo com a empresa, em mais de 40 mil estabelecimentos.

A tecnologia tem sido disponibilizada para comerciantes e potenciais emissores em outros 19 mercados, dentre os quais o Brasil. Por aqui, a provedora já firmou parcerias com a Caixa Econômica Federal e o Banrisul. Na outra ponta, a companhia calcula já ter 1,6 mil estabelecimentos cadastrados, dentre os quais a Cnova (grupo que abarca CasasBahia.com.br, Extra.com.br, Pontofrio.com, Barateiro.com, além do site da Giraffa’s em acordo firmado ainda  no final de 2013)

A meta é agregar mais instituições financeiras ao longo do tempo e varejistas para “cobrir o mercado o tanto quanto possível”, diz Marcelo Tangioni, vice-presidente de Produtos da MasterCard Brasil e Cone Sul, que é um dos profissionais da companhia que trabalha para alavancar a tecnologia no mercado local e fomentar um ecossistema local. Na sua visão é uma questão de orquestrar esforços.

Se Bitcoins não são inimigos e o futuro aponta para meios de pagamento cada vez mais digitais, qual tende a ser o futuro do plástico nos meios de pagamento? “É difícil saber”, responde Cohen, “mas são modelos que podem conviver. A parte importante é que essas novidades aceleram a migração para um mundo cada vez mais eletrônico”.