Pesquisadores aplicaram ferramenta de edição genética CRISPR em camundongos para bloquear temporariamente uma molécula-chave em neurônios transmissor

O caso do artista de rua paquistanês que não sentia dor inspirou cientistas na busca de soluções para diminuir o sofrimento de pacientes. O menino, aos 10 anos de idade, colocava facas nos braços e andava em brasas fervendo. Com uma desordem genética rara descrita em 2006, foi descoberto que o garoto sentia frio, calor e também a textura de objetos, mas era incapaz de sentir dor.

De acordo com informações do MIT Technology Review, os pesquisadores associaram o caso à ferramenta de edição genética CRISPR. Segundo os estudiosos, esse pode ser um passo em direção a uma terapia capaz de bloquear as dores severas causadas pelas diabetes, câncer e acidentes sem os efeitos aditivos dos opióides.

A nova abordagem, que imita a rara mutação do DNA do menino paquistanês, foi demonstrada em camundongos no laboratório de Prashant Mali, na Universidade da Califórnia. A pesquisa foi liderada por Ana Moreno, CEO da startup Navega Therapeutics, que planeja desenvolver um tratamento baseado em CRISPR a erradicação da dor.

A pesquisa, que utilizou a CRISPR para bloquear temporariamente uma molécula-chave em neurônios transmissores de dor na medula espinhal de camundongos, foi descrita em um artigo publicado em julho. A ideia é injetar no fluido espinhal cerebral partículas virais portadoras de uma versão modificada do CRISPR projetada para interromper os sinais de dor.

A disputa por uma nova geração de tratamentos para a dor começou quando os cientistas se concentraram em um gene chamado SCN9A, ator fundamental na transmissão da dor ao cérebro. A evidência para o papel central do gene veio de pessoas com síndromes genéticas raras, o que impulsionou o interesse das empresas farmacêuticas para desenvolver medicamentos. Porém, até o momento, os esforços para eliminar a dor com drogas convencionais não foram bem-sucedidos.

O novo relatório é o primeiro a usar a CRISPR para tratar a dor em camundongos. “Os dados dos animais sugerem que você ainda sentiria uma chaleira em chamas, mas a dor seria muito menor”, diz John Wood, da University College London. O cientista considera o uso de CRISPR para tratamentos “um grande avanço”.

Ainda há muitas perguntas não respondidas sobre se o CRISPR será realmente capaz de eliminar a dor. Os principais questionamentos incluem quanto tempo o efeito durará e como o método afetará as dores preexistentes. Além disso, a terapia genética exige alta tecnologia e, portanto, depende de muitos recursos. Um tratamento aprovado recentemente custou US$ 2,1 milhões, o que mostra que ainda deve levar um tempo para que a solução seja popularizada.