Acredite ou não, há apenas quatro anos, a Nokia era a líder do mercado mundial de smartphones. Desde então, ela foi comprada pela Microsoft, que anunciou na semana passada a decisão de despedir metade da sua força de trabalho. Então, digam-me, qual exatamente foi a razão da sua aquisição por 7,2 mil milhões de dólares há pouco mais de um ano atrás?

 

Os sabichões do mercado financeiro podem gostar dessas demissões – eles adoram tudo o que faz com que o próximo trimestre pareça bom e não têm muito cuidado com as consequências de coisas assim para o futuro a longo prazo de uma empresa.

Desembolsar 7,2 mil milhões  de dólares é bastante, mesmo para a Microsoft. E esse valor está longe de ser o total de gastos da Microsoft com a Nokia. A empresa terá que gastar entre 1,1 mil milhões e 1,6 mil milhões de dólares no ano fiscal iniciado agora em julho só com as demissões, e cerca de metade desse montante irá para os funcionários da Nokia dispensados na barca. Assim, some-se mais 550 milhões a 800 milhões de dólares na conta Nokia.

Pelo menos, a Microsoft se beneficia da linha de celulares da Nokia, certo? Não é bem assim. A Microsoft também disse semana passada que desistirá dos dispositivos “low-end” da Nokia e dos seus Nokia X Android. Em vez disso, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, quer concentrar-se nos Windows Phone 8.x.

Tentar adivinhar o que os CEOs de empresas de topo pensam é um exercício e tanto. Normalmente, pode-se admitir que o CEO está no caminho certo, e que você faria diferente. Neste caso, no entanto, tudo o que posso fazer é coçar a cabeça. Sério, Nadella? Você vai apostar tudo em dispositivos que dependem de um sistema operacional móvel que está em um distante terceiro lugar, comparado ao Android e ao iOS – um sistema operacional que está realmente ficando para trás em relação aos seus rivais?

Tudo o que vi me leva a pensar que os dias da Nokia estão contados. Lembre-se, a Nokia já estava com problemas antes de a Microsoft comprá-la, mas esta aquisição pode tornar a situação ainda pior.

As coisas começaram a azedar quando uma massa crítica de consumidores começou a se afastar dos feature phones para adotar os smartphones. O Symbian, da Nokia, foi um ótimo sistema operacional para os feature phones, mas não funcionava nada bem em smartphones. Quando reconheceu que precisava de um sucessor para o Symbian, a Nokia  experimentou vários sistemas operacionais baseados em Linux – como o Maemo, MeeGo e Tizen – que não deram em nada. Aparentemente, não querendo ser mais uma a ter smartphones Android, evitou o sistema operacional (quer dizer, até pouco antes do acordo com a Microsoft ser fechado). A Samsung, por sua vez, decidiu adotar o Android e tem feito muito dinheiro com os seus smartphones e tablets.

Quando a Nokia começou a oscilar, contratou como seu CEO Stephen Elop, então o chefe de divisão de negócios da Microsoft. No início do seu mandato, a Nokia tinha uma quota de 34,2% do mercado mundial de celulares. Três anos mais tarde, quando Elop negociou a venda à Microsoft, a quota da Nokia no mercado global já havia caído para péssimos 3%. No meio dessa espiral de morte, em 4 de Setembro de 2012 Elop apresentou o novo aparelho topo de linha com  Windows, o Lumia 920. No dia seguinte, escrevi: “a verdade sobre a viabilidade do Windows Phone 8 pode ser vista pelo simples fato de que após a Nokia lançar o novo modelo as suas ações mergulharam mais de 13%. Alguma dúvida?”

Isto não foi um fenômeno de um dia. Até o momento da venda à Microsoft, o preço das ações da Nokia sob a “liderança” de Elop caíram quase um terço. E antes da Microsoft ter a possibilidade de despedir metade dos funcionários da Nokia, Elop já tinha despedido 20 mil.

Não é de admirar que algumas pessoas digam que Elop era um “cavalo de Tróia”, enviado para a Nokia com o propósito expresso de destruir a empresa para a tornar mais barata para a Microsoft. O problema com essa teoria é que, como disse anteriormente, é difícil ver como a aquisição beneficiou a Microsoft.

Se a aquisição beneficiou alguém, foi Elop. Ele recebeu 25 milhões de dólares pela sua parte no negócio. E ele acabou por regressar à Microsoft, onde é hoje vice-presidente executivo do grupo de dispositivos (Devices Group).

Enfim, talvez a Nokia tivesse desaparecido de qualquer maneira. Ela já estava em apuros quando contratou Elop. Mas, certamente, com Elop como seu CEO e a Microsoft como sua aliada, ela não teve qualquer chance.

Por isso, temo que isto seja um adeus, Nokia. Você pode existir ainda como uma marca em smartphones fabricados no Vietnã, mas a empresa de telefonia móvel, e a sua experiência, desapareceram. Há remanescentes, incluindo a Jolla, fabricante dos smartphones Sailfish OS, e a Nokia Advanced Technologies, que vai gerir as patentes da Nokia. Mas elas não são nada em comparação com a gigante da telefonia móvel que já foi o orgulho da Finlândia. Ainda assim, é possível que Sisu – o espírito finlandês da determinação e da coragem que tem servido bem à Finlândia, ao seu povo e às suas empresas ao longo dos séculos – as acompanhe.

fonte: http://idgnow.com.br

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