Com o mundo caminhando para a era do zettabyte, as empresas estão sendo instigadas a investir em tecnologias para saber como tirar melhor proveito dos dados que inundam os ambientes corporativos, trazendo informações de forma veloz e nos mais variados formatos.

Essa necessidade faz com que elas tracem estratégias de Big Data, assunto considerado atualmente uma das principais prioridades das organizações e que deverá consumir parcela considerável dos orçamentos de TI nos próximos cinco anos, segundo projeções das consultorias Gartner, IDC, Frost & Sullivan, Accenture e PricewaterhouseCoopers (PwC). 

Segundo os analistas, Big Data ainda é um tema em fase inicial no mercado internacional e o Brasil está seguindo esta tendência. O volume de projetos deverá se intensificar mesmo a partir desse ano e movimentar a indústria. O Gartner prevê que os gastos globais com soluções nessa área alcançarão 34 bilhões de dólares em 2013, ante 28 bilhões de dólares em 2012. Para 2016, o instituto de pesquisas estima que os negócios vão dar um salto e faturar 232 bilhões de dólares, somando vendas de hardware, software e serviços relacionados. 

A IDC espera forte aquecimento da indústria de Big Data, porém com previsões mais conservadoras. Estudo da consultoria estima que a receita na área registrará taxa de crescimento anual de 31,7% até 2016. Esse índice é quase sete vezes o crescimento percentual previsto para todo o mercado de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs) no período. 

Análises da consultoria apontam que esse segmento está evoluindo muito rapidamente e incorporando tecnologias e serviços de uma gama de indústrias existentes, bem como de startups. O mercado mundial de tecnologia e serviços nesse setor apresenta oportunidades multibilionárias para as forncedoras de tecnologia, avalia Van Vesset, vice-presidente de Business Analytics e Big Data da IDC. Sua opinião se baseia na importância que esse tema vem ganhando na agenda dos CIOs. Para ele, esse segmento está atraente e as empresas que tiverem soluções analíticas certas e souberem atender sua clientela vão fazer bons negócios.

O relatório do Gartner prevê que as vendas de software vão representar 5,5 bilhões de dólares da receita total de 232 bilhões de dólares projetada para Big Data até 2016. Os negócios com aplicações vão experimentar crescimento anual de 16% nos próximos cinco anos. Porém, não é esse setor que receberá a maior parte dos investimentos das companhias. 

As organizações vão gastar mais é com a adaptação das tradicionais soluções para suportar os grandes volumes de dados, como os gerados pelas redes sociais, que se multiplicam a cada segundo e vêm de forma não-estruturada, ou seja, em diversos formatos como texto, vídeo e fotos. Pelas estimativas do Gartner, os investimentos em ferramentas para análise de conteúdo em redes sociais registrarão taxa de expansão de 45% ao ano até 2016. Junto com a compra de sistemas para filtrar mídias sociais, vão crescer também os gastos com serviços.

Necessidade dos negócios 

Ter ferramentas de Big Data para atender aos requisitos dos três Vs (volume, variedade e velocidade) é uma necessidade das empresas para se tornar mais competitivas, diz Fernando Belfort, líder de Pesquisas & Consultoria na América Latina da Frost & Sullivan. Ele argumenta que as organizações precisam investir em tecnologias para usar as informações de forma mais inteligente para se aproximar dos clientes e aumentar a lucratividade dos negócios.

Estudos da Frost & Sullivan revelam que 90% dos dados no mundo foram criados nos últimos dois anos e que as informações que circulam nas empresas vão se crescer mais ainda com as projeções que sinalizam que até 2020 a população da internet atingirá 5 bilhões de pessoas. Até lá, cada indivíduo terá pelo menos cinco aparelhos digitais conectados às redes de banda larga. As empresas que se apressarem para estar mais perto dessas pessoas, acompanhando em tempo real seus hábitos de consumo, são as que vão se diferenciar da concorrência.

Belfort destaca que algumas empresas brasileiras já estão olhando para Big Data para ganhar vantagem competitiva com análises de dados. A fase ainda é inicial, mas setores como varejo, telecomunicações e finanças estão alinhavando projetos para entrarem nesse mundo. Pesquisa da Frost & Sullivan estima que os negócios nessa área no País vão alcançar 1 bilhão de reais até 2016, com taxa anual de crescimento de mais de 25%. Esse valor representará quase metade da receita que será gerada pela América Latina.

Na avaliação de Anderson Figueiredo, analista de mercado da IDC Brasil, o País está acompanhando as tendências globais em Big Data. “Estamos emparelhados com o resto do mundo. Ainda não temos nenhum grande negócio Big Data, como ninguém tem”, relata o consultor. Ele afirma que as empresas já perceberam a necessidade de ter ferramentas para ir além do mundo do Business Intelligence e Business Analytics. 

O analista da IDC lembra que o Big Data vem com a proposta mais aguçada que é fotografar o cenário de negócios em tempo real. Com esse apelo, Figueiredo afirma que os CIOs brasileiros já estão fazendo a lição de casa para saber como suas empresas podem extrair benefícios dessa prática. “Eles sabem que o ferramental está no mercado porque a tecnologia  está ai. Agora a decisão está nas mãos de quem compra”, diz. Nesse sentido, o consultor alerta que os executivos locais ainda enfrentam um grande desafio para dimensionar os projetos e entender claramente por que precisam de Big Data.

É para ajudar as empresas a serem mais assertivas nas iniciativas de Big Data que a Accenture montou no ano passado uma unidade de negócios para práticas analytics no Brasil. O departamento conta com 300 profissionais, incluindo cientistas de dados, estatísticos, matemáticos e outros especialistas  que trabalham com seus pares em outros mercados, acompanhando as demandas dos clientes de serviços de análise de dados.

Rodolfo Eschenbach, líder da prática de Analytics para a América Latina da Accenture, conta que o alvo são empresas de segmentos como de telecomunicações, finanças e varejo. São setores da economia que operam com grandes volumes de dados e precisam de informações com mais qualidade para interagir com mais eficiência com os clientes e criar novos produtos. Ele afirma que hoje menos de 20% das companhias tomam decisões apoiadas na análise de dados e que a nova unidade da consultoria espera melhorar essa estatística no Brasil.   

Daniel Lázaro, líder de tecnologia para a rática de Digital, Data & Analytics da Accenture, acrescenta que um potencial setor a fazer uso de Big Data no Brasil são as operadoras de telecomunicações. Eles podem lançar mão das ferramentas de análise para melhorar a qualidade do atendimento aos clientes e gerar novas fontes de receita. “Elas podem refinar os dados, criar produtos e vendê-los para o mercado”, afirma.

Novos jogadores do mercado

Como peneirar informações exige grande habilidade das empresas, o movimento do Big Data vai abrir espaço para a entrada de novos players no mercado. São os prestadores de serviços que vão se encarregar de fazer toda a mineração de dados para tomada de decisão em determinados segmentos e depois vender essas informações para o mercado, a exemplo do que já faz a Serasa Experian na área de crédito.

“Estamos vendo muitas companhias se estruturando no Brasil para explorar o mercado de Big Data”, constata Edgar D’Andrea, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC). Ele observa dois movimentos nessa direção. Um deles é o de empresas de tecnologia se associando com outras para ter posse de dados dos consumidores. Ele menciona o exemplo da TIM, que recentemente fechou acordo com o Facebook, liberando aos clientes de planos pré-pagos o acesso grátis à rede social.

O outro movimento é o de companhias detentoras de grandes massas de dados que vão se oferecer para fazer Big Data para interessados na compra de informações inteligentes para incrementar seus negócios. São potenciais candidatos a explorar esse mercado as operadoras de telecomunicações, bancos e seguradoras. 

D’Andrea conta que os Estados Unidos estão criando infraestruturas avançadas nessa área. No Brasil, porém, as empresas só podem comercializar informações públicas. Elas têm de respeitar as questões de privacidade de seus clientes e não podem expor dados pessoais deles ao mercado. Tudo indica que o mercado, em breve, vai encarar uma discussão importante, tentando achar um caminho entre o que o Big Data tecnicamente permite fazer e o que pessoas e empresas podem de fato utilizar sem atravessar os limites da privacidade.